Uma devoção muito simples e bem ao gosto do povo que, cada vez mais, está se voltando para as medalhinhas, crucifixos e tantos outros sinais externos de suas devoções interiores.

Foto: acervo do Santuário.

Quem de nós já ouviu contar algum fato ou mesmo foi protagonista de alguma graça atribuída à chamada “medalha milagrosa”? Uma devoção muito simples e bem ao gosto do povo que, cada vez mais, está se voltando para as medalhinhas, crucifixos e tantos outros sinais externos de suas devoções interiores. Mas, como surgiu esta devoção e o que ela traz hoje para nós?

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Voltemos à França, início do século XIX, onde numa humilde família nasceu Catarina Labouré. Quando jovem, ingressou no noviciado das Irmãs da Caridade de São Vicente de Paulo e, ainda noviça, recebeu a graça de ver Nossa Senhora, que lhe apareceu numa tarde de novembro, de pé numa esfera branca, calcando sob os pés uma serpente e trazendo nas mãos um globo.

De repente, o globo desapareceu e os braços da Virgem se estenderam para a terra. Dos dedos, ornados com anéis de pedrarias, desciam raios de luz, raios que simbolizavam as graças que concedia aos que lhas pediam, e emanavam das pedras. Porém, havia pedras que não emitiam luminosidade nenhuma, simbolizando as pessoas que nunca pediam alguma graça a Maria. Em seguida apareceu, num oval, a inscrição: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”. E uma voz disse claramente: “Faz cunhar uma medalha sobre este modelo”.

A mesma visão se repetiu várias vezes, sobre o sacrário do altar-mor; ali aparecia Nossa Senhora, sempre com as mãos cheias de graças, estendidas para a terra, e a invocação já referida a envolvê-la.

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Santa Catarina Labouré relatou assim sua visão:

A Virgem Santíssima baixou para mim os olhos e me disse no íntimo de meu coração: ‘Este globo que vês representa o mundo inteiro (…) e cada pessoa em particular. Eis o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que as pedem.’ Desapareceu, então, o globo que tinha nas mãos e, como se estas não pudessem já com o peso das graças, inclinaram-se para a terra em atitude amorosa. Formou-se em volta da Santíssima Virgem um quadro oval, no qual em letras de ouro se liam estas palavras que cercavam a mesma Senhora: Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós. Ouvi, então, uma voz que me dizia: ‘Faça cunhar uma medalha por este modelo; todas as pessoas que a trouxerem receberão grandes graças, sobretudo se a trouxerem no pescoço; as graças serão abundantes, especialmente para aqueles que a usarem com confiança.’

Então o quadro se virou, e no verso apareceu a letra M, monograma de Maria, com uma cruz em cima, tendo um terço na base; por baixo da letra M estavam os corações de Jesus e sua Mãe Santíssima. O primeiro cercado por uma coroa de espinhos, e o segundo atravessado por uma espada. Contornando o quadro havia uma coroa de doze estrelas.

Nossa Senhora da Medalha Milagrosa é a mesma Nossa Senhora das Graças, por ter Santa Catarina Labouré ouvido, no princípio da visão, as palavras: “Estes raios são o símbolo das Graças que Maria Santíssima alcança para os homens.”

Esta é, portanto, a origem da Medalha Milagrosa que o Bispo fez cunhar em 1932 e que, a partir daí, tem alcançado de Deus muitas graças sobre quem a usa com devoção, buscando levar uma vida cristã autêntica. A conclusão do inquérito foi a seguinte: “A rápida propagação, o grande número de medalhas cunhadas e distribuídas, os admiráveis benefícios e graças singulares obtidos, parecem sinais do céu que confirmam a realidade das aparições, a verdade das narrativas da vidente e a difusão da Medalha”.

Usos e abusos

É próprio deste tempo em que vivemos, chamado ‘pós-modernidade’, o retorno a costumes que, em épocas anteriores, foram muito usados e depois, por vários motivos, deixaram de fazer parte da vida do povo. Ainda trazemos viva na memória a mudança operada depois do Concílio Vaticano II, quando muitas igrejas foram despidas completamente das suas imagens sacras.

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Em nosso Carmelo, temos alguns belos exemplares que nos foram doados nesse tempo de “despojamento” das igrejas paroquiais de Passos, aqui em Minas Gerais. Houve uma preocupação maior com a Palavra de Deus, com o estudo da doutrina e da Sagrada Escritura, com a formação e orientação das pessoas sobre os exageros das devoções que então grassavam nas igrejas.

Lembro-me de ver as pessoas rezando o terço durante a Missa ao invés de participar. Mas isso era o que o povo podia fazer, numa liturgia onde pouco se entendia, feita em outra língua, com gestos estranhos e com o celebrante de costas para a assembleia. Fazer o quê? Rezar o terço, novenas etc., durante a celebração, parando somente durante a homilia e a consagração, quando se tocava a campainha para indicar que algo importante estava acontecendo no altar. Assim, num empenho de conscientizar o povo sobre a essência do cristianismo, despojou-se este mesmo povo de suas devoções e seus sinais externos de amor a Deus, à Virgem Maria e aos santos.

E o que vimos acontecer? Se por um lado, em vários lugares, conseguiu-se formar um laicato consciente e atuante, despojado de exageros devocionais, por outro foram introduzidas na vida das pessoas uma série de amuletos, costumes exóticos, estatuetas estranhas e outros sinais de crendices populares. Recordo-me de várias explicações que ouvia quando jovem, que usar trevo de quatro folhas dava sorte, colocar a estatueta de um elefante de costas para quem entra espanta mau-olhado e outras mais. Nunca acreditei nisto, pois meu pai nos passou uma consciência cristã muito apurada desde cedo, mas via muita gente se empenhar em não deixar passar nem um destes costumes sem reverenciá-los. E por que isso? Creio que seja porque somos também matéria e precisamos de sinais palpáveis que nos ajudem a ir ao encontro do transcendente.

Já hoje nos deparamos com o extremo oposto, ou seja, voltou o uso destes sinais e símbolos religiosos, só que às vezes com certo exagero. Usa-se porque é moda, não por convicção religiosa, por devoção ou como expressão de amor a Jesus e a Maria. Usa-se de qualquer jeito, com qualquer roupa – às vezes até pouco digna para um cristão ou uma cristã – e sem uma consciência do que se carrega no pescoço, no braço, nos dedos, orelhas etc. Causa um mal-estar ver, por exemplo, uma artista declaradamente esotérica usando uma roupa nada decente e com um grande crucifixo pendurado no pescoço. Pensamos, com Santa Teresa de Jesus, que “estão crucificando de novo a Nosso Senhor”. Mas, deixando de lado os sermões, vejamos ao nosso redor, olhemos para nossa vida e reflitamos como usamos nossos sinais de amor, nossa medalha de Nossa Senhora, nosso crucifixo…

A medalha e os milagres

Uma das mais significativas graças concedidas por Deus através da Medalha Milagrosa foi, sem dúvida, a que diz respeito a um rico judeu de Estrasburgo chamado Afonso de Ratisbona. Afonso era jovem e estava noivo. De passagem por Roma, recebeu de um amigo católico uma medalha da Imaculada Conceição. Estavam numa igreja e o judeu, por delicadeza, aceitou o presente.

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De repente, Afonso viu, sobre um altar, a Virgem cheia de majestade e de imensa doçura, que lhe aparecera como fora representada na medalha. O judeu caiu de joelhos e, como em êxtase, ali se deixou ficar por algum tempo. Maria não lhe falara, mas o jovem, quando se levantou, era absolutamente outra pessoa. Logo recebeu o batismo, desmanchou o noivado e entrou na Companhia de Jesus. Mais tarde, junto com um irmão chamado Teodoro, fundou a congregação dos Padres e religiosos de Nossa Senhora de Sião, para a conversão dos judeus.

Outras muitas graças poderiam ser relatadas, mas não é nosso intento. Quero apenas refletir um pouco sobre a medalha e os raios que saem de suas mãos. Diz que Santa Catarina viu que de algumas pedras não saíam luz, porque muitas pessoas não se confiavam a Maria. E eu me pergunto:

“Por que não pedir à Mãe para que o Filho nos dê o que precisamos? Por que não beber da fonte que é Jesus pelas mãos generosas de sua e nossa Mãe? Por que não temos medo de pedir, quando precisamos, a pessoas estranhas e que até podem nos prejudicar e não pedimos Àquela que nos ama infinitamente e só quer o nosso bem?”

Jesus não fica ‘enciumado’ por nos ver amar sua Mãe, pelo contrário, o verdadeiro amor é difusivo e quanto mais amamos uma pessoa, mais queremos que todos a amem.

Será que estes raios que faltam sair das mãos de Maria não são também sinais de minha não participação na distribuição destas graças? Muitas vezes Deus quer se manifestar como o Deus amor através de minhas mãos, de minha generosidade e caridade para com o outro. Minha omissão também pode provocar a ‘falta’ de luminosidade, o não derramar total das graças de Deus sobre as pessoas com quem convivo ou que o próprio Senhor quer unir à minha vida de oração, de apostolado, ao meu sofrimento, minha doença etc.

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Lembremo-nos de que Deus não faz milagres desnecessários. Ele não vai aparecer e multiplicar pães, embora continue com todo poder para isto, se Ele deu capacidade aos homens de saciar a fome da humanidade com os meios naturais de que dispõem. Deus quer precisar de nós e, ao meu ver, Maria também quis mostrar isto. Cabe a nós completar os raios que faltam na Medalha Milagrosa de Nossa Senhora das Graças, amar esta Mãe com todo o nosso amor e expressar este amor vivendo o que ela mesma nos recomendou: “Fazei tudo o que Ele vos disser”, e incentivando a verdadeira devoção à sua Medalha Milagrosa.

E que Maria atraia sobre nós todas as graças do bom Deus!

Irmã Maria Elizabeth da Trindade, OCD – Passos-MG
Texto retirado do site: https://comshalom.org/


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